quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Imprensa: do cálice à manipulação


     
       Após vinte anos manchados pela ditadura militar, o Brasil desfruta da plena liberdade de informação jornalística. A imprensa brasileira - que em tempos de censura tanto abraçou o "Pai! Afasta de mim esse cálice" de Chico Buarque - tornou-se, em tese, um importante mecanismo de reforço do sistema democrático vigente: investiga, fiscaliza e denuncia as deturpações do Poder Público, garante o direito à informação, concretiza a democracia. Sabe-se, contudo, que estas atribuições são utópicas, idealizadas. Na prática, destaca-se o "cálice", a omissão, a manipulação de informações, o deturpar do instrumento de denúncia.
        A maioria dos meios de veiculação de notícias pertencem a determinados grupos econômicos ou são marionetes de governantes. E esse não é um fenômeno estritamente brasileiro. O ex-presidente norte-americano George W. Bush, por exemplo, impediu que fossem televisionadas imagens de soldados mortos na Guerra do Iraque. E isso torna, pois, a mídia um instrumento parcial, submetido às pretensões de quem a controla. É aí que se enxerga, além da semelhança entre a "CubaVisión" e a "CNN", o papel paradoxal da imprensa: o meio que deveria reforçar a democracia a corrompe ao passo que as informações veiculadas estão mais centradas em interesses de minorias do que no interesse público.
        Esse cenário fere os princípios democráticos (a partir dos quais saímos da plateia e nos estabelecemos no palco da decisões coletivas) e encobre a veracidade dos fatos. Nesse sentido, as redes televisivas são explícitos exemplos. Elas manipulam as massas, ocultam mostrando apenas o que lhes convém, estacionam a obscuridade frente ao direito à informação e, sem freios e contrapesos, interferem (como idealizou o filósofo Jonh Stuart Mill) no fato de o indivíduo ser soberano sobre sua mente. A televisão - e por conseguinte a imprensa - é inerentemente perigosa, pois distorce o mundo e nos impregna de predisposições que passamos a assumir como nossas.
        É fato que não chegamos ao exercício ideal do papel da imprensa em nossa sociedade. Para tanto, é primordial, inicialmente, que os veículos de informação prezem pela imparcialidade, desvinculando-se das pretensões de grupos econômicos e políticos. Além disso, os fatos noticiados devem ser divulgados
na íntegra, sem manipulação de informações e sem posições tendenciosas. Fiscal do Poder Público,
garantidora do direito à informação. Assim deve ser a imprensa: como afirmou Carlos Ayres Britto, a irmã siamesa da democracia.

Um comentário:

  1. Leio g1 a um bom tempo. Leio também Caros Amigos. Todavia, percebo como as palavras são manipuladas para aumentar o numero de visualizações, consequentemente elevando o preço do espaço publicitário. É triste perceber que as notícias também estão a venda. Parabéns pelo blog.

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